Jornalismo Científico
Pesquisadora Flávia Moura fala sobre a Preservação do Arboretum e outros empreendimentos científicos importantes para o meio ambiente de Alagoas
Por: Anderson Gomes e Tainá Anselmo – Estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas

A Dra. em ecologia e recursos naturais já não lidera o projeto, contudo forneceu informações importantes acerca do seu funcionamento.
Professora Flávia Moura em seu laboratório. (Foto: Anderson Gomes)
A professora Flávia Moura, renomada pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que atualmente desempenha o papel de vice-coordenadora do Centro de Referência e Recuperação de Áreas Degradadas do Baixo São Francisco, além de coordenar o Laboratório de Biologia Tropical da instituição. Falou com a nossa equipe sobre o funcionamento do Arboretum, e sobre os seus projetos desenvolvidos no Laboratório.
Com formação em Biologia pela Ufal, a Dra. Flávia prosseguiu seus estudos realizando mestrado em Pernambuco, doutorado em São Carlos e pós-doutorado na Austrália. Sua trajetória profissional incluiu uma significativa contribuição ao projeto Arboretum, onde dedicou sete anos (2008-2015) a diversas pesquisas voltadas à construção e manutenção de uma área preservada, situada no próprio Campus Maceió da universidade.
Em entrevista, a pesquisadora compartilhou sobre o futuro do projeto Arboretum, que conta com 140 espécies das mais diversificadas, entre elas estão Munguba, Jaracatiá, Ipê verde, Braúna, Murici e Copaíba. Além de detalhes de seus atuais projetos científicos, destacando o papel crucial dessas iniciativas para o desenvolvimento e preservação ambiental no estado.
A renomada professora também falou sobre sua experiência no comando do Arboretum, ressaltando sua importância na promoção da conservação ambiental e na geração de conhecimento científico relevante para a região.
Como foi o surgimento do Arboretum?
A professora que criou o Arboretum, chama-se Cecília Belo, que já se aposentou, mas ela é uma pessoa assim que, quando ela já estava perto de se aposentar, ela resolveu trabalhar com essa parte de produção de muda, criou um viveiro, e esse viveiro era aqui na Ufal, se chamava projeto cimenteira. No projeto eles faziam as mudas, conseguiam sementes nas matas, faziam as mudas. Mas ao redor do próprio viveiro, começaram a plantar no local. A área que antes era usada como local de descarte de lixo, hoje tem mais de 140 espécies de árvores, nisso foi criado a floresta ao redor, que hoje tem 23 anos.
Quais os principais cuidados para a manutenção do Arboretum?
O principal cuidado é com o fogo, mas também fica de olho em algumas pragas. Geralmente a gente não faz controle de nada. Mas já aconteceu uma praga que estava matando árvores da mesma espécie, aí a gente teve que cortá-las, esperar re-brotar, aí tem que tirar a madeira, tocar fogo, em um lugar seguro, pra poder não espalhar. Mas assim, basicamente os cuidados são esses, pragas e fogo.
A pesquisadora também falou sobre o futuro do projeto Arboretum que atualmente está em troca de coordenação.
O arboretum pertence ao ICS, então o instituto vai cuidar. Mas a atual coordenação do arboretum está saindo agora em março, não sabemos quem vai ficar na coordenação. Mas assim, é um espaço extremamente importante em muitos aspectos. Primeiro que é uma área verde-urbana, segundo que é área restaurada.
Qual a importância do projeto para Alagoas e o povo alagoano?
Vou destacar três: um como área verde urbana, que é uma coisa que alivia o estresse, a temperatura e promove a infiltração de água, que contribui com a melhoria do clima. A outra é na educação ambiental, acho super importante, porque é um lugar seguro, que dá pra trazer criança, que dá pra fazer trilha, e a terceira é como um banco de matrizes mesmo, para o futuro, então assim, algumas espécies estão ameaçadas e a gente tem local. Então no futuro podem servir para restaurar áreas e para recuperar a diversidade.
A comunidade pode trazer sementes e como faz?
Para coletar semente existe um protocolo. Por isso, geralmente vamos até as pessoas que têm sementes na propriedade de espécies nativas. Os interessados podem entrar em contato pelo Instagram do Arboretum, que vamos buscar.
Novos empreendimentos científicos

Laboratório de Biologia Tropical da instituição. (Foto: Anderson Gomes)
Após sair do Arboretum, a professora Flávia começou a trabalhar em outros projetos, ela falou mais sobre o assunto (confira abaixo).
Desde 2009 eu tô trabalhando no projeto do Centro de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas do Baixo São Francisco (CRAD). Primeiro conciliando, mas desde 2016 para cá, eu tenho trabalhado só no CRAD, aqui a gente trabalha com conservação e restauração. Então a gente trabalha com projetos com conservação de florestas, estudos de conservação, para identificar se aquela floresta sofreu perturbação, que nível de intensidade de perturbação, se as plantas estão reproduzindo, se está formando sementes, se essas sementes são viáveis. E aí a gente propõe manejos com base no que a gente estuda.
Qual a importância científica que esses projetos trazem para Alagoas?
A importância científica, bem, primeiro que a gente descobriu muita coisa nova. Por exemplo, recentemente a gente levantou que existem oito espécies de bromélia que não tem registro em nenhum outro lugar do mundo, exceto em Alagoas. Elas são endêmicas Bromélia, uma espécie linda que tem potencial ornamental, que são super importantes para fauna, porque os animais, por exemplo, sapo, não tem um rio perto, mas ele bota a lava ali, o girino completa o cíclico, é uma planta super especial, super maravilhosa. Identificamos também que tem 40 espécies de árvores ameaçadas em Alagoas, essas informações temos que saber. Então, essas informações a gente só consegue através das pesquisas mesmo. É uma informação triste, mas é melhor a gente ter e tentar ver se consegue reverter, do que a gente não ter e deixar acabar.

Uma das espécies de bromélia localizada em Alagoas. (Foto: Anderson Gomes)
