Jornalismo Científico
Lugar de mulher é nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação; projeto destaca igualdade de gênero
Por Rebecca Moura – Estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas
Onde é o lugar de mulher? o projeto de extensão “Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação” mostra que é onde quiser, inclusive em áreas majoritariamente ocupada por homens. A frente dessa iniciativa está a Professora Dra. Juliana Roberta Theodoro de Lima, atual Vice-Diretora do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Alagoas (IM-UFAL), com uma trajetória marcada por uma dedicação à Matemática e um compromisso inabalável com a promoção da igualdade de gênero nas áreas de exatas.

Juliana Roberta Theodoro de Lima – (Foto: acervo pessoal)
Em entrevista, ela compartilhou sua jornada com a pesquisa e os desafios enfrentados pelas mulheres nesse campo. Desde sua infância, Juliana demonstrou afinidade com as ciências exatas. Sua curiosidade e paixão por experimentos científicos a impulsionaram na direção da Matemática.
Incentivo para exatas
“Eu sempre tive preferências pelas ciências exatas. Gostava de brincar de fazer experiências e falava que era cientista. Na escola, principalmente no ensino médio, tive uma professora que percebeu que eu me incomodava em não saber de onde as fórmulas matemáticas e físicas”.
“Assim, ela foi me orientando sobre a possibilidade de prestar matemática. Prestei vestibular para matemática, física e engenharia física, e acabei optando por matemática, e assim nasce minha paixão”, continua a professora.
Graduada em Bacharelado em Matemática pela IBILCE\Unesp-Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Juliana deu continuidade em seus estudos, obtendo mestrado e doutorado pela renomada ICMC\USP-Universidade de São Paulo, com períodos de pesquisa no Canadá.
Já a sua área de expertise abrange a Topologia Algébrica, com foco em Grupos de Nós, Tranças em Superfícies e outros tópicos relacionados. Além disso, Juliana acumulou experiência internacional, realizando pós-doutorados em diversas instituições, incluindo a Universidade de São Paulo, Université du Quebec à Montreal e University of Manitoba.
Dificuldades e desafios
Ao longo de sua carreira, a especialista relata que enfrentou e superou desafios relacionados ao preconceito de gênero. No entanto, ela sempre esteve consciente da resistência enfrentada pelas mulheres nas áreas de exatas, ela enfatiza a importância de oferecer às meninas oportunidades iguais desde cedo.
“As meninas são ensinadas desde pequenas que suas capacidades giram em torno de cuidar, limpar e ter filhos desde seus brinquedos. Já os meninos tem um leque de opções de desenvolver e o que brincar”, expõe.
Ela relata ainda que teve uma infância livre com as mesmas opções de brinquedos que os meus irmãos. Além disso, teve a liberdade de escolher os brinquedos que gostava de brincar, como os meninos tem. “O problema não é o que vamos escolher para brincar, mas o importante é que a criança escolha o que quer e não o que é imposto para elas”, pontua a professora.
Projeto de extensão
Para isso, ela coordena o projeto de extensão “Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação”, voltado para despertar o interesse de estudantes de escolas públicas, especialmente meninas, pela Matemática e áreas afins.
As atividades do projeto tem como objetivo não apenas despertar o interesse das meninas pelas ciências, mas também oferecer suporte emocional e encorajamento. Com uma equipe totalmente feminina, o projeto foca em representar e inspirar as alunas, proporcionando experiências lúdicas e educacionais que estimulam o pensamento criativo e o interesse pela ciência e tecnologia.
De acordo com pesquisas da academia brasileira de ciências, a mulher já é maioria na universidade. Contudo, pesquisas do INEP, mostram que apenas 20% estão nas áreas de stem (science, technology, engineering and Mathematics).
“Dessa forma minha motivação vem desses números que são preocupantes, principalmente quando aumentamos as variáveis do gênero feminino: gênero e raça, gênero e maternidade, essas números são ainda menores. Projetos como o nosso, são necessários”, expõe Juliana.
“O futuro da revolução da sociedade é feminista”
Juliana reconhece os desafios persistentes que as mulheres enfrentam mesmo após conquistar espaços profissionais. Em ambientes que são considerados predominantemente masculinos, a luta contra o machismo e misoginia é constante. “A ideia é trabalhar o emocional para continuar firme e fazer com que as pessoas entendam que nosso lugar não pode ser mais retirado da gente e que ocuparemos nossos lugares, usando a lei e denunciando abusos e assédios de todos os tipos.”
Para as jovens que aspiram seguir carreiras na pesquisa científica, Juliana oferece palavras de incentivo e orientação. Ela enfatiza a importância de serem fortes, focadas e unidas, enfrentando os desafios com determinação e coragem.
“Sejam fortes e focadas nos objetivos por seus espaços, e não focar nas perseguições. Buscar rede de apoio, serem sororas e jamais deixar o medo paraliza-las. Denunciem assédios e abusos”, destaca.
Quanto ao futuro das mulheres nas áreas de exatas, Juliana deseja uma sociedade mais equitativa e inclusiva. Ela destaca a necessidade de educar as gerações futuras desde cedo, promovendo a desconstrução de estereótipos de gênero e a igualdade de oportunidades.
“O futuro da revolução da sociedade é feminista. Estamos em épocas de transições, que são sempre difíceis. Mas são esses tempos que marcarão uma era mais igualitária. Para isso temos duas frentes: a frente de já educar a juventude e as crianças desde pequenas e produzir ações de desconstrução machista em homens e mulheres adultos”, conclui a especialista.
