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Jornalismo Científico

Pesquisa Ecológica atua na preservação da Costa dos Corais em Alagoas

A coordenadora do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração da Costa dos Corais Alagoas (Peld CCAL), Nídia Fabré, analisa as dificuldades e resultados do projeto.

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Por Ana Letícia Macário, Damásio Frank e Gabriel Amorim – Estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas

O Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) tem como objetivo
principal produzir e disponibilizar conhecimentos diversos, contribuindo com o
desenvolvimento mais sustentável do qual está inserido. Estruturado em sítios de
pesquisa distribuídos em diversos biomas do Brasil, o Peld é executado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e conta
com apoio financeiro de outras instituições.

O Peld Costa dos Corais em Alagoas, atuante desde 2017, trabalha com o
monitoramento e pesquisa dos sistemas socioecológicos da Área de Proteção
Ambiental (APA) da Costa dos Corais no estado, que vai do Litoral Norte de Maceió
até o município de Tamandaré, em Pernambuco. Coberta de barreiras de corais e
manguezais, ela é o lar de várias espécies de animais e plantas, alguns deles
ameaçados de extinção, como o peixe-boi-marinho.

Com o lema “Cientistas a serviço da comunidade”, visa a apresentação de
resultados de pesquisas, demonstrações de materiais, diálogos sobre corais,
tartarugas, peixes-boi entre outros. Em Alagoas, o programa é financiado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de contar com
apoio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

A coordenadora do Peld CCAL, Nídia Noemi Fabré, abriu as portas do programa à
reportagem, revelando assuntos ainda não tão claros à luz da população, como as
principais dificuldades enfrentadas, além da importância da manutenção e da
transmissão de conhecimento.

Nídia Fabré, Coordenadora do Peld CCAL (Foto: Pei Fon)

Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo Programa de
Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) Costa dos Corais em Alagoas?

Nídia Fabré: O principal obstáculo que nós enfrentamos nessa construção do Peld Costa
dos Corais é, sem dúvida nenhuma, que há muito a ser feito com pouco recurso financeiro.
A articulação institucional na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem nos dado muito
apoio, mas, com as crises que a gente tem enfrentado na Universidade, sempre surgem
impasses que nós precisamos superar. A Fapeal também é uma grande parceira, já que ela,
junto com o CNPQ, financia a proposta do Peld. Mas mesmo assim, a equipe é muito
grande, as nossas linhas de atuação são extremamente amplas e isso requer, realmente,
um investimento pesado.

O aumento no uso das áreas costeiras e a dificuldade da sociedade em entender a importância dos recursos naturais também são estudados pelo Peld Costa dos Corais? O quanto isso poderia impactar no turismo, grande fonte de renda de Alagoas?

Nídia Fabré: A gente vem observando o avanço descontrolado do uso das áreas costeiras,
como também os efeitos da substituição da cobertura natural por grandes empreendimentos
turísticos. [Há também] a falta de articulação – até da própria sociedade local e da gestão –
para, realmente, abraçar a defesa desse patrimônio natural, que, de fato, representa um
serviço ambiental que fornece proteína para os pescadores, além de uma paisagem natural
belíssima, que sustenta toda uma cadeia produtiva incrível em torno do turismo.

“Nós precisamos, de fato, que a sociedade e os próprios usuários tenham uma noção mais concreta de que, sem conservar esses ecossistemas, nós vamos perder muito dinheiro”.

Atualmente, o Peld Costa dos Corais está em seu segundo ciclo. O que significa a denominação, e qual o sentimento de fazer parte do primeiro programa da categoria no estado? Há previsão de continuação aos trabalhos?

Nídia Fabré: Os ciclos estão diretamente relacionados com as chamadas públicas que o
CNPq faz para a concorrência nacional dos projetos como um todo. Nosso primeiro Peld
começou em 2016/2017, que foi o primeiro ciclo que nós ganhamos. Pela primeira vez,
Alagoas teve o fato inédito de um Peld. É um programa muito tradicional de ecologia de
longa duração no país e, realmente, Alagoas plantou bandeira com seu primeiro ciclo e
foram quatro anos de sucesso. Nós temos um impacto enorme, tanto na formação de
recursos humanos, na produção científica, quanto à própria transformação da sociedade
local. Aí nós conseguimos ganhar o ciclo 2, que irá terminar em janeiro de 2025, e já
aplicamos para o edital, que acabou de fechar no mês passado, para o terceiro. Então,
longa vida ao Peld Costa dos Corais. Esperamos poder ganhar mais uma rodada e ter o
ciclo 3!

A visitação aos corais costeiros impacta na qualidade do ecossistema?

Nídia Fabré: Nossos recifes de corais costeiros são o principal atrativo para o turismo, que
tanto movimenta recurso para o estado de Alagoas. O pisoteamento dessas comunidades
coralinas provoca, realmente, uma antropização [ação do ser humano sobre o meio
ambiente] e uma perda da qualidade desses ecossistemas costeiros. Isso é extremamente
importante de ser controlado. O Peld está junto com o ICMbio [Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade], o gestor de água da Costa dos corais, tentando modelar a
capacidade e suporte da visitação a essas piscinas naturais para minimizar o impacto dessa
antropização e tentar, então, usufruir de forma responsável essas belíssimas formações
recifais que devem ser mantidas ao longo das gerações.

“Peld é comunidade” reúne público infantil para mostrar resultados do projeto, em Paripueira. (Foto: Comunicação Peld CCAL)

Além da preservação, também há um cuidado especial com as práticas socioambientais, buscando educar, principalmente, as crianças e pescadores. Como você resume essa preocupação do Peld com essa área?

Nídia Fabré: Então, este é um foco extremamente importante e diferenciador do nosso
Peld. Na verdade, o nosso Costa dos Corais, comparado com quase 45 programas
distribuídos pelo Brasil todo, por todos os biomas, tem o diferencial desse componente
socioambiental. Isso significa que nós estamos tentando entender essa interação da
disponibilidade de recursos naturais e como eles são sofridos pelo homem, pelas
populações – tanto tradicionais quanto não tradicionais. As populações tradicionais,
representadas, principalmente, pelas pescadoras marisqueiras e pelos pescadores, que
tentamos resgatar esse conhecimento ecológico tradicional que eles têm ao longo das
gerações.

Nós tivemos, também, uma proposta de divulgação de transferência do conhecimento
científico geral do Peld Costa dos Corais para a sociedade, onde tivemos duas estratégias
sistemicamente bem-sucedidas. Entre eles, o desenho animado “Mar à Vista”, produto que
realmente tem um impacto enorme. O objetivo é, não somente, levar e transferir o
conhecimento científico produzido, mas também ser um laboratório de ensino de
transferência para nossos alunos, visto que todos os nossos resultados são transferidos em
forma lúdica para a sociedade, principalmente para as crianças, e essa sociedade pode
tomar conhecimento dos resultados, da importância desses recursos naturais para a sua
vida e também como que isso é importante posto de vista do Brasil e das questões globais
como um todo.

“Peld é comunidade”, em Maragogi. (Foto: Comunicação Peld CCAL).

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