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Jornalismo Científico

Entrevista com o Mestrando Caio Moura

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Por Arthur Britto – Estudante de Jornalismo de Universidade Federal de Alagoas

Estudante de Mestrado acadêmico do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde – ICBS, tema: (Atividade física e ângulo de fase de adolescentes que vivem com HIV: Associações diretas e mediadas pela aptidão física). pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Com uma trajetória acadêmica focada na saúde cardiovascular, Caio Moura participa de um estudo de coorte aninhada que tem por objetivo entender como o estilo de vida, a aptidão física e marcadores biológicos se relacionam para impactar a saúde dos indivíduos, especialmente em grupos com condições clínicas específicas, como o HIV.

Grupo de pesquisa no Hospital Escola Dr. Hélvio Auto. (Foto: Arquivo Pessoal )

Durante o estudo, o acadêmico especializou-se na análise de variáveis-chave, como os níveis de atividade física, comportamento sedentário, e utiliza técnicas capazes de avaliar a composição corporal, a aptidão aeróbica e a força de preensão manual dos participantes. Sua pesquisa envolve o uso de análises estatísticas robustas de mediação e moderação para explorar o papel das condições físicas no prognóstico de saúde celular (ângulo de fase).

Com sua contribuição e dedicação ao avanço do conhecimento científico e à promoção de práticas de saúde baseadas em evidências, o profissional se destaca como uma promessa no campo da Educação Física e da saúde pública. Hoje, atua junto com os acadêmicos integrantes do laboratório de pesquisa em biodinâmica do desempenho humano e saúde liderado pelo professor Luiz Rodrigo Augustemak de Lima.

Quais são as principais perguntas que você busca responder com este estudo?

A principal pergunta de pesquisa é: As capacidades físicas são variáveis mediadoras ou moderadoras da relação entre o estilo de vida e a saúde celular de adolescentes vivendo com HIV?

Qual a importância da análise de estilo de vida na sua pesquisa e como isso se relaciona com a saúde cardiovascular?

A área da atividade física e saúde, levando em conta como exposição para o risco cardiovascular existe desde 1953, a partir dos estudos do britânico James Morris, ele avaliou motoristas e cobradores dos ônibus clássicos de primeiro andar ao longo de 10 anos com a hipótese de que os motoristas, que trabalhavam sentados, teriam uma saúde cardiovascular pior do que os cobradores, que trabalhavam subindo e descendo escadas, e os resultados desta pesquisa mostrou que os motoristas tinham maior incidência de eventos cardiovasculares. Então, estudos posteriores se dedicaram a explorar mais a atividade física habitual e até mesmo o comportamento sedentário e seus desfechos. Minha pesquisa segue esta linha de raciocínio, busco entender se as capacidades físicas dos adolescentes que vivem com HIV impactam o estilo de vida e na saúde celular (avaliada pelo ângulo de fase, biomarcador da bioimpedância elétrica).

Como vocês selecionaram os participantes do estudo e quais critérios foram utilizados?

Participaram do estudo: 1) adolescentes (10 a 18 anos) diagnosticado HIV+ acompanhados no SAE ou HD. Foram excluídos do estudo: 1) Adolescentes que vivem com deficiência(s); 2) Adolescentes com restrição à prática de exercícios físicos; 3) Adolescentes com incapacidade de manter-se de pé e/ou locomover-se; 4) infectados por transmissão sexual.

A nossa intenção era avaliar adolescentes que vivem com HIV por transmissão vertical (adquirida de mãe para filho). Pois eles estão expostos a infecção e aos efeitos colaterais dos medicamentos há mais tempo do que adolescentes infectados por transmissão sexual, e isso tem várias implicações epidemiológicas, como o atraso do estado de maturação sexual, déficit na curva de crescimento e de maturação óssea.

Quais resultados preliminares ou expectativas você tem em relação aos níveis de atividade física, comportamento sedentário e saúde cardiovascular?

Observamos que existe sim uma associação entra níveis de atividade física com a saúde celular de adolescentes que vivem com HIV, sugerindo que os fisicamente ativos estão mais saudáveis do que os inativos. E as capacidades físicas não tiveram uma interação com a relação entre atividade física e saúde celular, porém encontramos moderações parciais em algumas condições das capacidades físicas.

Quais foram os principais desafios que você encontrou até agora na condução da sua pesquisa?

Aprender as análises de mediação e moderação e estruturar um problema de pesquisa complexo com 4 variáveis intermediárias (capacidades físicas ou aptidão física: Composição corporal [área muscular do braço e percentual de gordura corporal]; aptidão aeróbica e força muscular).

Que habilidades ou conhecimentos você adquiriu durante sua jornada acadêmica que foram fundamentais para o desenvolvimento deste projeto?

Sobre pesquisa: Aprendi a desenvolver um projeto científico desde a sua estrutura quanto a submissão no comitê de ética em pesquisa científica, aprimorei minhas habilidades em metodologia e redação científica, aprendi métodos estatísticos desde os mais simples e descritivos aos mais avançados e inferenciais, aprendi as etapas práticas da pesquisa científica, desde o estudo piloto e calibração dos avaliadores até a visita em campo. Fiz uma visita técnica onde conheci um dos melhores campus para pesquisa em atividade física e saúde da américa latina (Centro de Desportos – UFSC) e o Núcleo de Pesquisa em Cineantropometria E Desempenho Humano (NUCIDH), participei de congressos acadêmicos onde pude fazer intercâmbio de conhecimentos e conhecer o que pesquisadores renomados na área estão trabalhando.

Sobre ensino: Aprendi como é feito um planejamento semestral, a disposição das aulas e o raciocínio lógico de sua composição. Aprendi a estruturar uma aula, desde o plano de aula à execução. Aprendi elementos didáticos e critérios de pontuação em provas didáticas de concursos para professores. Fiz estágio docência no curso de educação física da UFAL, ao qual dei aula sobre Epidemiologia das atividades físicas e saúde pública. Também aprendi a orientar estudantes de Iniciação Científica.

Sobre extensão: Participei de um projeto de extensão universitária que tem a intenção de facilitar conteúdos de saúde para pessoas que vivem com HIV, visto que grande maioria dos adultos e idosos com HIV possuem baixo nível de instrução, então fizemos cartilhas com instruções sobre atividade física, comportamento sedentário, alimentação etc. também divulgamos no perfil @projetovidahpositiva mitos e verdades sobre a condição crônica (viver com HIV). Também participo de um projeto voltado a oferecer avaliações de saúde periódicas e musculação 2x na semana na UFAL para adultos que vivem com HIV, este projeto é em parceria com a Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HUPAA/UFAL.

Como você vê a sua pesquisa contribuindo para o avanço do conhecimento na área de Educação Física e saúde?

Minha pesquisa entra numa lacuna pouco explorada pela educação física, que é a compreensão da capacidade física de adolescentes que vivem com HIV, já existe na área estudos sobre aptidão aeróbica, força muscular e composição corporal, mas estes estudos não tentam compreender o impacto destes na relação entre atividade física e saúde celular.

Quais são suas expectativas para o futuro em relação a esta linha de pesquisa e seu impacto na saúde pública?

Minha expectativa sobre essa linha de pesquisa é que ela está longe de ficar saturada, principalmente porque os estudos com métodos objetivos ainda são poucos em adolescentes que vivem com HIV,  também não existem estudos de coorte na área, ou sejam por mais que se tenha uma noção do perfil epidemiológico de adolescentes que vivem com HIV e a partir disto deduzir a saúde cardiovascular deles, não temos estudos longitudinais para mostrar com precisão os valores de incidência de eventos cardiovasculares nessa população, além disso, também não temos a compreensão sobre a que ponto uma pessoa com um bom condicionamento físico está protegida de um evento sendo fisicamente ativa ou não. Os impactos desta pesquisa na saúde pública é justificar programas de esportes que facilitem a inclusão de pessoas que vive com HIV, a fim de melhorar a capacidade física dessa pessoa e por consequência seu nível de atividade física, melhorando assim sua saúde celular e cardiovascular.

Mestrando Caio Moura. (Foto: Arquivo Pessoal)

Que conselhos você daria a outros estudantes que estão pensando em seguir uma carreira de pesquisa em saúde e Educação Física?

Eu lembro muito do que uma professora me falou no meu segundo período da graduação: “Vivam tudo o que a universidade oferta”, eu segui isso à risca, participei de monitoria, participei de iniciação científica, iniciação à docência, projeto de extensão, apresentei trabalho em congresso acadêmico, fiz inglês ofertado pela universidade, fiz intercâmbio remoto (durante a pandemia), fiz residência pedagógica. Não só quem pensa em seguir carreira acadêmica na Atividade física e saúde, mas em qualquer área acadêmica isso é necessário.

Para encerrar, como você espera que as descobertas da pesquisa sejam aplicadas na prática clínica e no cotidiano das pessoas?

Espero que as descobertas desta pesquisa contribuam para o desenvolvimento de intervenções mais direcionadas e práticas no cuidado de adolescentes que vivem com HIV. O achado de que a atividade física está diretamente associada ao ângulo de fase, um marcador importante da saúde celular e do estado nutricional, reforça a importância de promover a prática de exercícios físicos regulares nessa população. Embora a aptidão física não tenha moderado significativamente essa relação, os resultados sugerem que a simples adoção de um estilo de vida mais ativo pode trazer benefícios diretos para a saúde desses adolescentes. Na prática clínica, isso pode inspirar a criação de programas de atividade física adaptados à realidade e às capacidades individuais dos adolescentes com HIV, visando melhorar a qualidade de vida e os marcadores de saúde de forma acessível e eficaz. No cotidiano, essas informações podem encorajar os adolescentes e seus cuidadores a priorizarem atividades físicas como parte do autocuidado, independentemente do nível de aptidão física inicial.

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